Friday, May 16, 2008

Relacionamentos, Carnaval e Los Hermanos


Escrever, para mim, é prazer e não gosto de misturar com “obrigação” quando não faço isso para me sustentar. Por isso não me importo em demorar a atualizar sites, blogs e fotologs. Também por isso, talvez, eu tenha me assustado com o pedido “escreve sobre Los Hermanos? Fz um texto para mim, ou sobre ma música que tenha a ver comigo”. Eu nunca tinha escrito um texto desse tipo sob encomenda.
Mas no correr do dia e conforme as horas passavam, a idéia martelava cadenciadamente na minha cabeça. “O que eu vou escrever sobre Los Hermanos, meu Deus?” Até que no meio da tarde, um telefonema me dava conta de que alguém perguntou sobre mim para uma amiga e questionou se eu “gostava de Los Hermanos”, utilizando isso como referência para me identificar, sei lá por que. “Opa! De novo? Em menos de dois dias? Acho melhor providenciar meu texto...”
Los Hermanos é uma banda de contradições. Despertou no “cenário indie” brasileiro e de repente arrebatava milhões de fãs que cantavam em coro, enlouquecidamente, o nome de uma “tal” Anna Julia. Até um Beatle entrou na onda quando George Harrison foi convidado por Jim Capaldi para tocar guitarra na versão em inglês. Pronto! Era o que bastava para que aqueles que ouviam antes do “estouro” passassem a renegar a banda. “Los Hermanos? De jeito nenhum. Ficaram muito pop.” No final, nem eles mesmos agüentavam mais a coisa e tiraram Anna Julia do repertório dos shows.
Eu não nego! Conheci Los Hermanos por essa música. Mas eu sou aquela que quando acha uma banda interessante vai atrás do trabalho dos caras. Foi assim com eles.
E, para mim, que sou chegada num lado meio “dark” (no sentido deprê da palavra) e em relacionamentos complicados e conturbados, existem dias em que não pode existir melhor trilha sonora.
Isso porque nem mesmo a levada meio carnavalesca ou a batida forte de algumas músicas esconde a tristeza das letras. Não existe final feliz em música do Los Hermanos (ou se existem, são raríssimos, e no momento, não me lembro de nenhum). Não existe relacionamento perfeito. Existem amores complexos, dores, despedidas, traições. E se juntarmos a isso a melancolia que os timbres de Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante e os acordes dos metais emprestam às canções...
Eles cantaram tão bem o desespero dos traídos, dos desprezados, dos que se apaixonaram pela pessoa errada, mas nem isso faz a gente morrer de tristeza quando ouve. Na verdade, quem freqüentava os antigos bailes de carnaval reconhece em seus shows e CDs a sensação indescritível de saudade de algo que ainda não acabou, típica da terça-feira gorda... Aquela coisa de pensar “ai ai... acaba hoje e depois só no ano que vem.”
O que difere Los Hermanos de outras bandas, na minha vida, é que eu não ouço desesperadamente o tempo todo, só em algumas situações, e também que sei qual é minha música preferida. E é justamente ela que me lembra a pessoa que pediu o texto: Condicional. Simplesmente porque ela fala de sentimento de posse. Daquele que toma conta de quem gosta de alguém (“... eu sei é um doce te amar, o amargo é querer-te pra mim...). E também sobre as maravilhas de se dar liberdade a quem se gosta (“... sei, tanto te soltei que você me quis em todo lugar...”).
Já foi a música da minha vida em dois momentos: um de posse e outro de liberdade. Hoje é simplesmente uma música que eu gosto muito. Assim mesmo, sem vergonha de admitir.
Pena que tenham se separado, ou estejam em stand by. Mas como eles mesmos já cantaram... “Todo carnaval tem seu fim”, era de se esperar que esse também tivesse.