Monday, November 16, 2009

Sobre os próximos textos

Só para situar num contexto, os dois textos que seguem são antigos e estavam guardados dentro de um caderno. Nada tem a ver com coisas ou acontecimentos recentes. :)

Saudade


Saudade é palavra que só existe em português. Por que será? Será que só quem fala português sente saudades?
Eu não sou “uma pessoa de pessoas”, sou “uma pessoa de bichos”, ou seja, gosto mais de animais do que de gente. Talvez por isso, poucas pessoas me comovem e menos ainda me “tocam”. Mas acho que aquelas que o fazem são mágicas, porque de alguma maneira me encantam.
Eu descobri, quando tinha 15 anos, um lugar que me dava saudades quando eu ia embora. Uma única outra cidade onde eu gostaria demorar. E a vontade e a saudade eram tantas que me faziam enfrentar qualquer situação para ir para lá.
Demorei outros 18 anos para conhecer outro lugar assim. O mais engraçado é que o nome dos dois lugares é bem parecido. Ou melhor, quase o mesmo. Londrina e Londres.
Quando eu ia para Londrina, um amigo meu costumava dizer: “Odeio quando você vai para lá porque você volta com o capeta.”
É, eu ficava realmente irritada. Principalmente porque queria ter ficado por lá.
Quando eu voltei de Londres, passei dias sem querer contato com o mundo porque sabia que nada ia me satisfazer.
O mais engraçado é que vivo querendo voltar para Londres, mas percebi que vivo fugindo de Londrina. Descobri que há anos invento desculpas para não voltar lá. Não era porque eu não tinha tempo, não era porque eu não tinha dinheiro. Era simplesmente porque eu não queria ter que vir embora e lidar com tudo aquilo de novo.
Uma droga, mas é verdade: eu vivo fugindo das coisas. E, se não posso fugir da saudade, não sou eu quem vai enfrentá-la.
Ridículo! Péssimo! Porque seu parasse com isso iria perceber que posso ir mais vezes e assim, matéria a saudade mais rápido e não ficaria sofrendo porque depois de ir embora, encontrar tudo de novo, só após 12 meses.
Viveria mais feliz, teria mais histórias para contar, alcançaria outros objetivos. No mínimo escreveria mais.
Mas, que fique bem claro. As cidades são metáforas. Afinal, sempre estarão lá. São as pessoas que moram por lá ou que passaram por lá, ou que moram em qualquer outro lugar.
E pensar que, quando eu estiver acostumando... acontece tudo de novo...

Apertando o pause...


Ultimamente dei de pensar na vida de novo. Na verdade, ultimamente, dei para pensar em você. E se sob algum aspecto isso parece ser coisa de apaixonado, quando o sujeito da frase sou eu, passa a ser sinal de que as coisas vão mal.
Passei dois dias sonhando como seria bom. No terceiro, acordei. E, cansada como quem dormiu com um gato imenso deitado sobre as costas*, senti o sino da intuição tocando. Espero que você me surpreenda, mas a experiência anterior me diz que não. Até porque em cinco minutos de conversa consegui identificar traços de um passado que eu tinha conseguido deixar para trás. Mas, aí vem você de novo, com seu jeito manhoso e eu novamente perdendo a razão.
Sim, perdendo a razão, porque a vingança há muito ficou para trás. Aliás, vingança maior seria dispensá-lo. “Pode ficar com ele, porque eu já não quero mais.”
Mas isso já é outra história. E, se por um lado eu penso em como gostaria de estar com você, por outro, como disse antes, comecei a ponderar. Comecei a ensaiar para tomar coragem. Uma coragem que começa como idéia pequenininha, vai crescendo, tomando forma, criando personalidade e, de repente, já tem vida própria.
Já passei por isso. Demorei seis meses, mas de repente minha coragem ganhou vida e saiu atropelando tudo o que me incomodava. Inclusive meu relacionamento.
Foram seis meses analisando prós e contras e, no final, os contras ganharam de goleada.
Hoje, nas conversas que travei com você na minha cabeça, os prós saíram de campo derrotados. Nossa situação já não me era mais suficiente.
Se as coisas mudarem, espero que a coragem pegue a insatisfação e leve para um grande passeio, mas que estejam sempre ao alcance das mãos caso eu precise.
Mas, se tudo tomar o rumo que eu suspeito, espero que a coragem amadureça antes de seu tempo.
Pode não parecer justo, pode não ser o que eu mais quero. Mas é o melhor. Pelo menos para mim. Quem sabe assim você acorda e percebe que, no final das contas, quem está sozinho é você.

* Eu tinha um gato que costumava dormir sobre minhas costas toda vez que eu deitava de bruços. Ele era grande e pesado e quando eu acordava, parecia que ia morrer.