Sunday, August 31, 2008

Amizade instantânea


Existem pessoas com as quais a gente convive uma vida inteira e, por mais que se saiba e acompanhe praticamente tudo o que acontece com elas não se sente a vontade nunca. É como se uma barreira nos separasse delas, como se algo impedisse a aproximação completa. Em compensação, existem outras com as quais bastam apenas dois segundos de convivência, o tempo exato entre “oi, eu sou fulano” e “prazer, eu sou cicrano”, para que você tenha a sensação de toda uma vida de convivência. É como se não fosse uma apresentação, mas um reencontro de de amigos que se conhecem há séculos.
E foi assim, entre tomadas ligadas no 240, “ta ligado?”, “não é verdade?”, “vamo aí, vamo aí” e uma série de outras frases repetidas no mínimo duzentas vezes por segundo que o cara (ainda não era O CARA) que EU achava que devia SE achar “a última bolacha do pacote” ou “a bala que matou o Kennedy”, se revelou uma incrível surpresa na viagem.
Foram “ônibus de dúzia”, “morrer de árvore e ter sorte por estar no ônibus indo para casa”, “vamos por aqui que a gente sai do carnaval” e cair no meio do desfile, “ali fica Trafalgar Square”, “eu sei, já fui lá”, “foi mal”, “vamos nesse pub”, “Dri, troca a passagem”, “Dri, você tinha que ficar mais”, “ninguém acredita em mim quando eu falo isso”, “eu sou O cara que mudou sua vida”, “eu sou O cara que te levou pro outro lado do mundo”, “aqui nesse lugar eu vi o fulano”, “do you mind a picture?”, “eu sou difícil”, “isso não passa pelo crivo da minha razão” e uma série de outras coisas que transformaram uma segunda-feira, ou melhor um Bank Holiday, que seria mais um dia de turismo em Londres, num dia de milhões de risadas e passeios que não íamos fazer sozinhas.
Foram telefonemas, fotos, bagunça. Nossa imaginação fértil (minha e da Ligia) imaginando a chegada triunfal da pessoa que ia nos encontrar no hotel antes da gente ir embora (“de onde será que ele vem?”, “como será que ele vem?”, “eu acho que ele vem de bike”, “se ele fosse um super-herói seria o “Flash”). E assim, acabamos ficando todos “alcoolicamente bem dispostos” quase na hora de ir embora.
Conhecer gente assim é o tipo de coisa que torna as viagens mais interessantes, mas torna as voltas para casa mais chatas. Isso porque por mais que você fale milhões de palavras por segundo (e aqui estamos falando de duas pessoas que falam muito e muito rápido), ainda faltam duzentos trilhões de assuntos, porque por mais que você faça planos para a próxima viagem, você sabe que isso vai demorar séculos para acontecer.
Ao mesmo tempo é o tipo de coisa que te faz morrer de rir quando a fila para entrar no avião está parada ou o ônibus não sai do lugar e você começa a imitar a pessoa dizendo “vamo aí, vamo aí, busão” e o povo em volta saca que você está falando de algo que aconteceu na sua viagem e começa a rir, achando graça e provavelmente lembrando de algo que aconteceu na deles.
Enfim, tem gente que é assim, inesquecível mesmo que esteja longe. Porque afinal, dizem por aí que “a primeira vez a gente nunca esquece”, embora eu, particularmente tenha algumas ressalvas contra isso... Mas, vamos dar crédito à sabedoria popular e, sendo assim, como é que você esquece “a primeira vez que foi para o outro lado do mundo e quem te levou para lá?” Impossível!
This one is for you, HS man!