Sunday, September 28, 2008

Me and the Music


Eu, definitivamente, tenho uma relação muito estranha com a música. Com algumas, em particular, eu simplesmente não consigo sequer definir a sensação que elas me despertam quando ouço.
É diferente, por exemplo, de Wonderful Woman, dos Smiths, que eu sei exatamente o que sinto, o que eu gostaria de fazer, cada vez que ouço. Aliás, é bem diferente de Smiths de uma forma geral. Eu já disse em outro texto que Morrissey consegue me levar onde quer que ele queira simplesmente com o som da sua voz.
Essas tais outras músicas, que fazem parte de uma listinha bem grande, eu não sei o que fazer, como classificar. Só sei que gosto muito e o que sinto quando ouço depende muito do momento. Se estou feliz, tenho vontade de cantar, andar pelo parque, correr na chuva, girar de braços abertos no meio da rua feito boba. Em compensação, se estou triste, tenho vontade de ficar sentada na janela enquanto olho o cinza de um dia chuvoso, daqueles em que se você sai na rua é simplesmente para poder chorar sem que ninguém perceba, ou chorar no chão da cozinha como diz Amy Winehouse.
Uma dessas é The Hardest Part, do Cold Play. E embora Cris Martin seja daqueles caras com vozes que tem o poder de me fazer viajar e The Hardest Part seja absurdamente triste, tem dias que o som dos teclados e o clima da música me fazem ter vontade de sair correndo sentindo o vento no rosto, com aquela sensação de alívio que a gente sente quando passa por um fim de relacionamento muito ruim e, de repente, percebe que tudo o que você sentia foi embora. Simples assim, como que por encanto, como que através de um “click” do controle remoto. Em outros... ah, em outros...
Outra que se encaixa perfeitamente no quadro é “Read My Mind”, do The Killers. Há dias que tudo o que quero quando ouço é cantar “I don’t mind if you don’t mind” e receber um “I don’t shine if you don’t shine” como resposta. Sonhar com amores possíveis ou impossíveis, em lugares distantes, encontros em aeroportos, estações de trem, cartas, cartões, Encontros e Desencontros, como aquele de Scarlett Johansson e Bill Murray, com gente que gosta do mesmo que eu, com coisas que eu não precise explicar, com tanta coisa sem sentido, ou com tanto sentido que se torna incompreensível. Em outros, basta ouvir “On the corner of main street” para ter vontade de sair correndo, cavar um buraco tão fundo que me permitisse chegar à China, sem passar pelo calor do centro da Terra, subir na passarela mais alta da Tower Bridge e me jogar no Tâmisa ou definhar no melhor estilo “Romântico da Segunda Geração”.
Mas, de todas, acho que a mais ambígua é She’s a Rainbow, dos Rolling Stones. Em geral ela me despertava uma incrível vontade de usar roupas coloridas e sair saltitando (talvez por causa de uma propaganda que tinha essa música como trilha), mas também por causa da letra. Mas, em compensação, essa é a única com uma explicação lógica. Depois de ouvi-la no avião, na volta da Inglaterra, quando todos os sentimentos do mundo, toda a saudade do mundo, toda a tristeza do planeta está concentrada na garganta e você tem que pensar em alguma coisa absurda para não chorar porque é noite e não dá para usar óculos escuros, fica difícil manter uma relação só de felicidade com a música.
Ontem foi dia de felicidade. Hoje é dia de tristeza. Amanhã, só Deus sabe, mas espero sinceramente que os dias de “vontade de rir sozinha” sejam sempre em maior número. Eu tenho queda para tristeza, para o cinza, para chuva e com tanto tempo disponível ficar assim não é nada animador...