Friday, August 18, 2006

Esperando ansiosamente


O hábito adquirido na infância de ler tudo o que me caía nas mãos fez com que, algumas vezes, eu desejasse ter escrito alguma daquelas coisas.
Mas, eu acho que nenhum texto se encaixa tão bem nessa condição como “Um Telefonema” de Dorothy Parker. Ali, ela descreve tão bem as angústias, as ansiedades, de alguém à espera do malfadado telefonema, que é impossível não se ver no lugar da personagem principal.
Mas, o melhor de tudo é perceber como a história é atemporal. Hoje, como quando os telefones tornaram-se populares, o sofrimento de quem espera continua a mesma.
Qual mulher já não tentou enganar o relógio para que o tempo passasse mais rápido? Ler, sair, conversar com uma amiga, usar o telefone só para ter a desculpa de ligar depois dizendo: “estou ligando porque talvez você tenha me ligado e eu estava usando o telefone”.
Todo mundo já passou por isso. Todo mundo já quase caiu de uma cadeira, sobressaltado, ao escutar o toque do maldito aparelho. E muitos já passaram pela frustração de não ter o desfecho esperado para sua história.
É, eu sei. A história se repete ano após ano. Mas, sinceramente, não acredito que Dorothy Parker tivesse a noção do que ainda estaria por vir.
Os ansiosos do Século XXI têm que lidar, ainda, com celulares, pagers, Orkuts, e-mails e o famoso MSN.
Agora, sair para dar um passeio tentando distrair e matar o tempo, não adianta mais. Afinal, o celular vai atrás e, para completar, ainda serve como relógio.
Pior ainda, se o famoso “te ligo, ou nos falamos amanhã”, não vir seguido de um horário. Pronto. Está feita a lambança. Um dia todo de espera e nem um minuto de sossego.
Quem nunca se pegou apertando F5 no teclado do computador, repetidas vezes, só para ver se a esperada “foto” aparecia ali, como entre as pessoas que estavam on line, ou na sua página de “recados” para ver se seu “objeto de desejo” tinha dado um sinal de vida.
Confesso que o barulhinho da entrada de um contato no MSN já me fez pular muitas vezes e voltar, do meio do corredor, só para ver quem estava entrando. Já parei de jantar para ver quem me chamava no computador. Enviar/Receber do meu Outlook é o “botão” mais cobiçado, ainda que esteja programado para verificar a cada 1 min a chegada de novos e-mails.
É, eu sei que sou ansiosa. Sei, também, que sou neurótica. E quando o assunto é esperar, fico cada dia mais. Mas, eu não ligo. Afinal, que atire a primeira pedra quem nunca sentou na frente do PC e ficou conectado, torcendo e pensando: “sobe, plaquinha, sobe”, ou não olhou de cara feia para algum morador da casa que se atrevesse a usar o telefone num desses dias.
Sorte de quem vê a plaquinha subir, o outlook avisar a chegada de nova mensagem ou o Orkut acusar novo scrap. Sorte de quem tem seu programa de TV favorito interrompido pelo barulhinho chato do recebimento de mensagens via celular ou pelo o toque do telefone. Pode-se dizer que vocês foram abençoados! Agraciados com o dom, como costumo brincar.
Para os outros, fica o conselho que eu mesma já segui muitas vezes: “Get a life!”
Em português? Viva! Vai para a rua! As coisas só acontecem quando você desencana totalmente delas! Ou nunca reparou que quando você não está a procura de um namorado(a) sempre aparecem cinco ou seis pretendentes?
Quanto a mim, estou acabando de escrever esse texto e me mandando para uma festa! Mas, tenho que confessar que isso é fácil, quando não se espera o telefonema de ninguém, ou já recebeu pelo menos uma notícia no dia.

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